A necessidade de se investir em tecnologia para evitar casos de violência nos estádios de futebol e no entorno deles foi apontada como medida preventiva fundamental para Pernambuco. O alerta partiu de autoridades ouvidas durante audiência pública da Comissão de Esporte da Alepe, promovida nesta quarta (15).
De acordo com os participantes, as ferramentas disponíveis atualmente, como reconhecimento facial e instrumentos de interceptação de conversas por celular, nos dias que antecedem as partidas e nas datas dos eventos, podem ser um caminho eficaz na prevenção de crimes. Além disso, o monitoramento das redes sociais e o uso de drones nas imediações dos clubes também foram citados.
Segundo o titular do Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo e Criminal do Torcedor, Flávio Fontes, muitas dessas medidas já têm sido adotadas em grandes festas, como no Carnaval, e vêm contribuindo no combate à criminalidade. “Se drones estivessem monitorando o trajeto do ônibus em que estava o time do Fortaleza, saberíamos que mais de cem torcedores esperavam os oito batedores da Polícia Militar”, argumentou.
Titular da Promotoria do Torcedor, o promotor José Bispo de Melo defendeu a instalação de mecanismos para reconhecimento facial na entrada dos estádios. Melo salientou que esse tipo de identificação já acontece em estádios de Minas Gerais e São Paulo. “Peço a sensibilidade dos clubes para que façamos aqui em Pernambuco também. Isso facilita o trabalho da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Ministério Público e do Poder Judiciário”, observou.
Para o presidente da Câmara de Vereadores do Recife, Romerinho Jatobá (PSB), “se os clubes não tiverem condições de arcar com a aquisição dos equipamentos para reconhecimento facial, a Federação (Pernambucana de Futebol) deveria custear”. Quanto ao trabalho das polícias, ele cobrou uma fiscalização maior das redes sociais de torcedores. “É fácil de identificar isso. Tem um Instagram específico, em que as torcidas organizadas marcam os seus confrontos”, frisou.
Clubes
Com relação à proposta para implantação de leitores faciais, o presidente do Clube Náutico Capibaribe, Bruno Becker, explicou não haver qualquer resistência da entidade à medida em si. “Eu acho que é um caminho sem volta. Agora, isso gera um custo. E aí a gente precisa, sobretudo o Náutico, na série C, de uma ajuda financeira”, ponderou.
Sobre a questão da segurança dentro dos estádios locais, de um modo geral, o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, reforçou ser o Estado um dos mais seguros do Brasil. “Deixo claro que me refiro aqui à existência de ocorrências ‘dentro’ dos clubes. Agora, no entorno deles, o que nós temos é uma questão estrutural de violência pública”, comentou.
Forças
O gerente-geral do Centro Integrado de Operações de Defesa Social de Pernambuco, coronel Alexandre Tavares, comentou os esforços do poder público para coibir a violência em dias de jogos. “Montamos um grupo de trabalho específico para essa questão, o GT Futebol, por meio do qual temos avançado na elaboração de estratégias, em diálogo com diversos órgãos”, informou.
Representando a Polícia Civil, o delegado de Repressão à Intolerância Esportiva, Raul Carvalho, salientou algumas ações da sua equipe nos últimos dois anos. De acordo com ele, em 2023, foram registrados dois homicídios — ambos elucidados —, e em 2024, nenhum. “Além disso, todos os envolvidos no episódio com o veículo do Fortaleza foram presos. Concluímos esse inquérito específico dentro de um prazo de 60 dias.”
O diretor de Planejamento Operacional da PM, coronel João de Barros, também destacou a atuação da corporação, especialmente nos dias das partidas. “A Polícia Militar está sempre presente nos jogos e no combate à violência no âmbito do futebol. Somente esse ano foram conduzidas à delegacia 233 pessoas que cometeram algum tipo de infração”, contabilizou.
Balanço
O presidente da Comissão de Esporte, Pastor Júnior Tércio (PP), enalteceu a importância da audiência pública, visto a relevância do futebol para a população. “A violência tem afastado torcedores, além de levar uma imagem muito negativa dos clubes e da política de segurança do nosso Estado. Estamos aqui para ouvir informações, e sei que todos contribuem de alguma maneira com esse debate”, disse.