PUENTE LA REINA

Saímos de Pamplona cedo, com chuva fina e temperatura em torno de 6 graus, tomamos café no albergue, novamente preparado por nós, e na saída fizemos a foto do início da nossa jornada diária.
Nesse dia caminhamos por dentro da cidade um bom pedaço, passamos por igrejas, parques e por uma fortificação que lembrava os fortes construídos pelos holandeses aqui em Pernambuco.
Em determinado local, perto da universidade de Pamplona, encontramos patinetes elétricos para locação e Nathália, minha filha e caminhante, sugeriu que alugássemos os referidos patinetes, claro que era apenas brincadeira. Seguimos caminhando e mais a frente passamos em um lugarejo de nome Cizur Menor, o nome foi bem aplicado, não podia ser menor, e foi aí onde encontramos ibuprofeno, medicamento para as dores do corpo.
Léo, meu filho e também caminhante, já havia tomado essa droga na viagem anterior e conhecia seu efeito milagroso, era de fato bom. Após comprarmos o tal medicamento seguimos em direção ao “Alto del Perdon”.
Esse é um dos pontos mais alto do caminho, a serra del Perdon ou Erreniega, seu nome basco, é um monte com pouco mais de 1000 m de altitude situado nos arredores de Pamplona.
A subida era íngreme e longa, e ao meio dela havia uma fonte onde paramos para beber um pouco d’agua e descansar alguns minutos antes de continuar a subir. Nesse ínterim chegaram, também para beber, três peregrinos espanhóis que nos contaram a lenda sobre a dita fonte. Segundo eles, em passado distante, andava nesse local, em pleno verão, um caminhante, sedento e muito cansado, quando o diabo em forma de jovem de boa aparência apareceu e ofereceu água, mas como condição o referido caminhante teria que renegar a Deus. O sedento caminhante, que era muito religioso, resistiu e não quis conversa com o diabo, invocou a ajuda divina e Deus fez o diabo sumir. No lugar onde estava o capeta, Deus fez surgir a fonte em questão e o peregrino pode, enfim, saciar sua sede. Assim sendo nós também saciamos nossa sede em fonte sagrada. Histórias do caminho.
Após esse breve papo com os espanhóis reiniciamos a subida e chegamos ao topo, um local muito alto e muito bonito, e com seus pouco mais de 1000 m de altitude proporciona com uma vista fantástica.
La em cima existiu uma ermida, construída por volta do século XV, que servia aos peregrinos e era dedicada à nossa senhora do perdão, e que deu nome do local. Dizia-se que as graças recebidas por alcança-la, eram as mesmas por finalizar o caminho até Santiago, isto é, o perdão de seus pecados. Acho que fomos perdoados duas vezes.
Atualmente existe lá no alto um parque de energia eólica formado por dezenas de aerogeradores, um monumento metálico em tamanho natural representando uma comitiva de caminhantes e um memorial em homenagem as 92 pessoas assassinadas no local durante a ditadura franquista. Esse memorial é composto de uma grande pedra central representando todos os desaparecidos, e por outras 19 pedras menores representando as localidades dos desaparecidos.
A descida, assim como a subida, também era muito ruim, pedras soltas, forte e longa inclinação. Nesse dia, na descida, Manuel, meu genro e caminhante, que já vinha com algumas dores nos joelhos, piorou de vez e Hugo, meu sobrinho e também caminhante, que até então, não apresentava nenhuma dor, passou a sentir também fortes dores nos joelhos.
Depois de algumas horas a caminhar chegamos a “Puente la Reina” e fomos em busca do nosso albergue que era bom, e tinha uma particularidade, era também hotel. Após o banho, juntamos a roupa usada e fomos as maquinas de lavar, não sei porque cargas d’agua tivemos que lavar duas vezes.
Nesse dia rimos muito das bobagens que dizíamos, tinha sempre alguém a dizer alguma coisa e o cansaço nos fazia rir de tudo, até de nós mesmos. Após o descanso fomos em busca de local para comer e no restaurante encontramos dois ciclistas, um português e outro que penso ser espanhol, esses caras saíram de Saint Jean Pied de Port naquele mesmo dia e pedalaram algo em torno de 70 KM para chegar a Puente la Reina.
O ciclista português, que saiu do norte de Portugal com destino a Saint Jean Pied de Port, contou que se perdeu já perto do destino por ter estendido sua jornada ciclista até a noite. Estavam na estrada a muitos quilômetros e tinham algumas histórias para contar. O ciclista, supostamente espanhol, ao entrar pedalando sua bicicleta em um regato, levou um tombo e molhou-se por inteiro. Isso ocorreu por conta de usarem sapatilha que se engatavam aos pedais da bicicleta, como ele não conseguiu soltar os pés em tempo de evitar o tombo tomou um banho gelado.
Nós também havíamos passado por esse mesmo regato, só que a caminhar, e atravessamos por sobre pedras, sem nos molhar. Imagino que o espanhol não ficou muito aquecido, a temperatura não ajudava muito, era muito baixa e penso que quente mesmo só ficou o juízo do ciclista.

Texto – Jorge Barbosa – Empresário/Patriota

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